quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O bom fruto da boa semente


Na postagem anterior sobre Música Evangélica Brasileira, dei uma pincelada em alguns grupos de grande relevo no cenário da história da nossa música. Embora o objeto do artigo fosse falar de Janires, falamos um pouco do Vencedores Por Cristo, ministério que ao longo de seus mais de 40 anos de existência, tem deixado um legado valioso a gerações de cristãos brasileiros. Neste texto, ainda não falaremos sobre esse notável ministério cuja história muitos de nós conhecemos algo ou algo dela já ouvimos falar. Quero, portanto, falar de um dos inúmeros frutos desse mesmo ministério. Falo do Grupo Semente. A ortodoxia cronológica há de me perdoar por falar do filho antes do genitor, mas quem sabe assim não chamo ainda mais atenção para a monumental obra erigida por todos aqueles que compuseram o carinhosamente chamado VPC?

Eia então aos frutos, ou às sementes, qual seja!

O Grupo Semente nasceu no já não tão perto ano de 1982. Trazia em seu bojo o compromisso de um ministério voltado à propagação do evangelho numa linguagem e ritmos que contemplassem a nossa brasilidade e estivesse, sobretudo, subordinado à fidelidade à Palavra de Deus. Foi uma iniciativa vanguardista, pois aglutinava pessoas que traziam diferentes experiências no trabalho missionário e ao mesmo tempo ensejava uma abordagem onde alegria e arte compusessem o quadro cuja figura central fosse Cristo. Assim, teve início um trabalho que, se chamava atenção pela qualidade artística, um exame superficial dava conta de constatar o tratamento privilegiado dado à Palavra de Deus, como hoje não tanto se vê.

Em sua obra, encontramos instrumentais que evocam o calor de alegres trópicos cuja terra já abrigou a boa semente. Encontramos ritmos da nossa gente como chorinho, samba e baião sem, contudo, perder de vista a atenção dada à mensagem, sendo em forma de fidelidade doutrinária, seja na forma de sempre conceder à mensagem um lugar de destaque em relação à sonoridade e nunca o contrário.

Ao ouvirmos seus trabalhos, somos presenteados com arranjos de tal forma concebidos que sentimos o capricho nos acordes e na diversidade de sons harmonicamente justapostos, nas execuções instrumentais sem extravagância, mas com tal denodo que soa como carícia aos ouvidos.

Não bastasse a lealdade à mensagem, pode-se encontrar composições que perfazem leituras inequívocas de passagens bíblicas como em “Meu auxílio” onde vemos o Salmo 42:11 e chegamos à “Aquele que me ama” cuja letra é reprodução fiel de João 14:21 (na tradução Almeida Revista e Atualizada), resultando numa mensagem limpa,cuja mediação fica a cargo tão somente da música em elevado grau de qualidade e sobretudo do Espírito Santo. Eu mesmo fico estupefato pela beleza que se pôde extrair de apenas um versículo e quanta musicalidade se pôde produzir desta breve passagem. Também há composições como a de Caio Fábio em “É preciso” onde cabe uma reflexão sobre o “fazer e o ser evangélicos” com tal clareza e objetividade que não se pode honestamente cantar a primeira frase sem um suspirar profundo de responsabilidade cristã.

Há que se cuidar que o Grupo Semente foi formado por um time de primeira linha da música evangélica brasileira de então, qual seja: Sérgio Pimenta, Nelson Bomilcar, Gerson Ortega, Jorge Camargo, Edy Chagas, Marcos Mônaco, Miriam Zancul Ortega, Carla Bomilcar , Sônia Dimitrov Pimenta e Hélio Campos figurando também, composições de Caio Fabio e Guilherme Kerr.

Digno de nota, Sérgio Pimenta, que viria a falecer no ano de lançamento do último álbum do Grupo, imprimia em suas composições sua agudeza artística e uma profundidade que se pode sentir para além da audição, a extensão da conjunção música-mensagem, como se pode notar, por exemplo, nas músicas “Sob Pressão” e “Sentimento”.

A abordagem simples, despretensiosa e ao mesmo tempo vanguardista, utilizando o melhor da música em conjunto com a pregação clara e direta do Evangelho fez do Grupo Semente um exemplo de que é possível transmitir o amor de Deus sem recorrer a inovações importadas que em muitos casos tem empobrecido não só a pregação do Evangelho, mas mesmo sufocado o ensejo de uma expressão à brasileira da Palavra de Deus.

Por fim, nas palavras de Nelson Bomílcar, líder do Grupo Semente “O Grupo Semente uniu criatividade musical com visão séria de ministério, espírito de Louvor com performance; adaptou o conteúdo bíblico com a poesia numa preocupação de contextualização para nosso mundo contemporâneo. Seu trabalho mostrou o quanto é importante a comunhão com Deus e entre os irmãos, onde se pode criar amizades maduras e duradouras.”(*)

(*)Texto de Nelson Bomílcar extraído da fonte: http://henrialbarral.multiply.com/tag/grupo%20semente

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